O brincar como ferramenta do Psicodiagnóstico infantil sob o olhar da Psicanálise

Autores/as

  • Lucas Queiros Cavalcante Centro Universitário Vale do Salgado
  • Francisco Nalysson Lucena da Silva
  • Lielton Maia Silva

Resumen

Introdução: Rocco;Santos (2016) recordam que de início Freud baseou seus trabalhos na análise de adultos, porém, sem desconsiderar a infância, uma vez que relacionou os transtornos mentais com as primeiras fases do desenvolvimento humano. E por meio de seus estudos foi possível expandir a psicanálise ao tratamento da neurose infantil mediante a interpretação dos conteúdos manifestados pela atividade lúdica, fantasias e sonhos. Destacando a associação livre e a experiência que a criança é capaz de compreender a interpretação, bem como o estabelecimento transferencial com o terapeuta (ABERASTURY, 1982). Em suma, nos últimos anos, as demandas do psicodiagnóstico vem evoluindo frente a sua fundamentação e consolidação, sendo que seu intuito vai além da compreensão do sujeito e se dirige ao alcance de objetivos terapêuticos. É cabível ressaltar que,  o psicodiagnóstico é uma ferramenta essencial no campo da psicologia clínica, permitindo uma compreensão mais profunda do funcionamento psicológico de indivíduos de diferentes faixas etárias. No contexto específico das crianças, o psicodiagnóstico desempenha um papel fundamental na identificação de dificuldades emocionais, comportamentais e cognitivas, bem como na elaboração de intervenções adequadas, além da compreensão do desenvolvimento infantil, no qual é necessário identificar possíveis desafios que as crianças enfrentam sendo crucial para promover um desenvolvimento saudável e garantir o bem-estar emocional. No entanto, a avaliação psicológica infantil apresenta desafios únicos, como a comunicação limitada, a influência do ambiente familiar e a necessidade de adaptação de técnicas e instrumentos. Por isso a adequação do brincar com a criança, se torna fundamental neste processo, uma vez que a criança possa se sentir mais confortável e assim se expressar mais. Claro que o psicodiagnóstico com crianças também vem ressaltar que todos os procedimentos éticos serão rigorosamente seguidos, garantindo a confidencialidade e o bem-estar das crianças, buscando tornar o desenvolvimento de intervenções mais eficazes. Objetivo: aprofundar a compreensão do psicodiagnóstico em crianças sob uma visão psicanalítica, visando sua eficácia e a relação com o desenvolvimento infantil, contribuindo para aprimorar a prática clínica e promover um melhor atendimento psicológico às crianças, visando seu bem-estar emocional e desenvolvimento saudável. Metodologia: Este trabalho retrata uma revisão bibliográfica da abordagem qualitativa, no qual buscou-se artigos pautados nas temáticas a serem desenvolvidas, visando apresentar um olhar sobre o psicodiagnóstico na infância. No qual para a construção desse trabalho foram utilizados artigos científicos e periódicos encontrados no Google acadêmico e Scielo. Resultados e Discussões: O psicodiagnóstico com crianças apresenta distinções significativas em relação ao processo avaliativo com sujeitos de diferentes faixas etárias. Ao contrário de adultos e adolescentes, cuja expressão primária se dá frequentemente por meio da comunicação verbal, a criança nem sempre é capaz de articular seus sentimentos e preocupações de maneira verbal. Nesse contexto, o ato de brincar tem sido destacado por estudiosos do campo do psicodiagnóstico (Arzeno, 1997; Cunha, 2007; Hutz, Bandeira, Trentini & Krug, 2016) como um recurso valioso para a interpretação das manifestações do mundo interno da criança, bem como das dinâmicas familiares e de outros aspectos relacionados à sua vida cotidiana. (Gonçalves et al., 2019). É importante salientar também que o psicodiagnóstico infantil tradicional possui objetivos bem definidos. Inicialmente o contato é com os pais para exploração da queixa, dinâmica familiar e desenvolvimento da criança. Posteriormente, o avaliado é submetido a testes e as informações obtidas são integradas de forma a serem devolvidas aos pais, a fim de oferecer- lhes conclusões diagnósticas e encaminhamentos (ANCONA-LOPEZ, 2013). Dessa forma, Dentro do processo analítico, a atividade lúdica mantém-se constantemente presente no vínculo entre o paciente e o analista, enquanto a construção fantasiosa se insere nas interações interpessoais, muitas vezes se revelando como uma via para acessar os conflitos subjacentes. Dentro dessa ótica, a prática do brincar é concebida como um método de interação entre o indivíduo e seu inconsciente, configurando-se como uma atividade específica capaz de viabilizar a expressão das angústias. Segundo Aberastury (1982), a atividade lúdica é dotada de profundo significado, atuando como meio pelo qual a criança elabora situações traumáticas para o ego, transformando o que foi vivenciado de maneira passiva em experiências ativas, sujeitas ao controle. Além disso, por meio do brincar, a criança é capaz de expressar simbolicamente suas fantasias e desejos. Através da prática do brincar, a criança é capaz de sentir, experimentar e reexperienciar os acontecimentos de sua interação com o ambiente externo e consigo mesma. Progressivamente, desenvolve-se o espaço do imaginário, permitindo-lhe discernir e processar os elementos do mundo fictício e as experiências do mundo tangível. É durante o ato lúdico que a criança vivencia situações que envolvem perigos, temores, ameaças e prazeres, os quais conduzem a gratificações e simbolizam realizações de eventos presentes em sua vida real. (Bordin et al., 2014). A seleção do brinquedo está associada à necessidade de empregar um recurso que viabilize a manifestação de emoções e afetos. Além disso, irá favorecer a construção tanto da fantasia quanto da compreensão da realidade da criança, bem como abordar suas angústias relacionadas à sua experiência pessoal. Dessa forma, a atividade lúdica está intrinsecamente ligada aos elementos inconscientes da criança, cabendo ao profissional clínico investigar minuciosamente suas manifestações. Assim, por meio do brincar é possível investigar doenças e verificar características saudáveis e dificuldades da criança, diagnosticando possíveis patologias. Conclusão: Por fim, o presente trabalho ressalta o psicodiagnóstico com crianças um papel fundamental na identificação e compreensão das dificuldades emocionais, comportamentais e cognitivas que podem afetar seu desenvolvimento. Por isso que ao brincar através da avaliação psicológica abrangente, é possível obter informações valiosas sobre o funcionamento psicológico das crianças, permitindo a elaboração de intervenções adequadas e personalizadas, buscando compreender os desafios específicos enfrentados na avaliação psicológica de crianças, como a comunicação limitada e a influência do ambiente familiar, e uma boa transferência entre o profissional e a criança. Com isso, esses aspectos ressaltam a importância de adaptar as técnicas e instrumentos utilizados, garantindo uma avaliação precisa e abrangente.

Publicado

2024-05-03