Terapia Comportamental Dialética como tratamento do Transtorno de Personalidade Borderline

Autores

  • Antônio Martins Vieira e Silva Junior

Resumo

O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é uma condição grave caracterizada por instabilidade emocional, impulsividade, relações interpessoais tumultuadas, tendência para o suicídio e representa um desafio clínico significativo devido à sua complexidade e às consequências devastadoras que acarretam na vida da pessoa afetada. O tratamento é desgastante, os sintomas costumam ser severos e caracterizados por oscilação emocional extrema, comportamentos caóticos, paranóia, automutilação e instabilidade no self. Em virtude disso a terapia tende a ser lenta e desgastante, sendo comum o profissional responsável pelo processo apresentar sintomas de Burnout. Tendo em vista a complexidade e dificuldade do transtorno, um tratamento eficaz e especializado é essencial para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos com o diagnóstico e prevenir o esgotamento do profissional. A Terapia Comportamental Dialética (DBT), desenvolvida pela psicóloga Marsha Linehan na década de 1980, surgiu como uma abordagem terapêutica promissora para o tratamento do transtorno, sendo uma terapia baseada em evidências que combina estratégias de mudança comportamental com técnicas de aceitação e mindfulness, tendo sido projetada para abordar a complexidade do transtorno e atender às necessidades da comunidade de indivíduos que sofrem com a intensidade emocional e dificuldades interpessoais características do transtorno, bem como cuidar da comunidade de profissionais que tratam deles. O objetivo do estudo foi descrever a DBT no tratamento do TPB através da apresentação de seus princípios nucleares e discussão das implicações clínicas e as limitações da sua aplicação. Para alcançar os objetivos estabelecidos foi conduzia uma pesquisa bibliográfica integrativa exploratória a partir de publicações a respeito do tema, incluindo livros e artigos, a amostragem foi probabilística por conveniência. A DBT é uma abordagem terapêutica que integra análise do comportamento, filosofia dialética e práticas baseadas no Zen Budismo. Seu objetivo é ajudar os indivíduos a desenvolver habilidades de regulação emocional, aprimorar a tolerância à angústia e melhorar a eficácia nas relações interpessoais. O programa de tratamento DBT é formado por quatro partes integradas entre si: terapia individual buscando desenvolver autoconhecimento e habilidades de resolução de problemas; treinamento de habilidades abrangendo módulos de Mindfulness, Regulação Emocional, Tolerância ao Mal Estar e Habilidades Interpessoais, onde cada módulo é orientado à desafios específicos, como impulsividade, desregulação emocional ou dificuldades em manter relacionamentos saudáveis; suporte telefônico, cujo objetivo é ajudar o paciente a manejar crises e generalizar habilidades; por fim equipe de consultoria, que serve de suporte aos profissionais e os ajuda a manter-se fieis ao modelo de tratamento padrão. A DBT é um tratamento baseado em princípios, mas também faz uso de protocolos, estando dividida em estágios: no pré-tratamento existe o contato inicial com o terapeuta e o programa, o paciente é educado sobre o modelo e avaliado para saber se participar ou não; no primeiro estágio o foco principal é a estabilização do comportamento e da crise, o terapeuta ajuda o paciente a identificar comportamentos de risco e a desenvolver estratégias para reduzi-los, o objetivo é reduzir comportamentos impulsivos ou que coloquem a vida ou integridade física em perigo; no segundo o foco se desloca para levar a paciente a criar repertório para experimentar emoções intensas de forma não traumática, os comportamentos alvo desse estágio são transtornos residuais, estresse pós-traumático, sequelas de invalidação, luto inibido, vazio e tédio; o terceiro busca estabelecer respeito próprio e direcionar o paciente na direção dos seus objetivos de vida, os objetivos são aumentar a autoestima, potencializar o respeito próprio e diminuir os problemas da vida, já o quarto e último estágio visa a ajudar o paciente a alcançar uma sensação de satisfação pessoal e construir uma vida significativa, isso envolve definir metas e criar de um sentido de propósito na vida, bem como o desenvolver uma autoimagem positiva. Um crescente corpo de evidências apoia a eficácia da terapia no tratamento do transtorno, estudos clínicos controlados demonstraram que o tratamento foi eficaz na redução de comportamentos de automutilação, sintomas depressivos e impulsividade em indivíduos com o diagnóstico, e sua aplicação  pode resultar em uma taxa significativamente menor de tentativas de suicídio em comparação com o tratamento usual. Deve-se notar que o tratamento também demonstrou eficácia na melhoria da qualidade de vida e na promoção da estabilidade emocional, onde os resultados sugerem que a combinação de estratégias de mudança comportamental com técnicas de aceitação e mindfulness pode proporcionar aos pacientes ferramentas necessárias para gerenciar seus sintomas de forma eficaz. Com isso, observa-se que a DBT tem se destacado como uma abordagem terapêutica eficaz para o tratamento do TPB, onde a sua ênfase está na promoção da regulação emocional, prevenção de comportamentos autodestrutivos e melhoria das habilidades interpessoais atende às necessidades específicas dos indivíduos com o diagnóstico. No entanto, deve-se  observar que ela não é uma abordagem única que se aplica igualmente a todos os casos, para uma  aplicação bem-sucedida requer um terapeuta treinado e um ambiente terapêutico estruturado, além disso, a abordagem é mais eficaz quando adaptada para atender às necessidades individuais dos pacientes, assim como o paciente precisa estar engajado com todo o programa, bem como o terapeuta estar integrado a uma equipe de consultoria e seguir o programa de tratamento padrão. A DBT tem se mostrado uma abordagem eficaz no tratamento do TPB, onde a combinação de de mudança comportamental, aceitação e mindfulness oferece ferramentas necessárias para melhorar a qualidade de vida, reduzir comportamentos de risco e desenvolver habilidades interpessoais saudáveis. No entanto, é fundamental reconhecer que o tratamento é complexo e a DBT não é a única abordagem terapêutica válida, sendo importante uma abordagem multidisciplinar envolvendo psicoterapia, medicamentos e o suporte de profissionais de saúde mental necessária para atender de forma abrangente às necessidades dos pacientes com o diagnóstico. É importante frisar que é essencial que a eficácia da do programa de tratamento seja avaliada em diferentes contextos clínicos e em populações diversas, à medida que a pesquisa continuar a avançar. Assim, pode-se concluir que a DBT é uma esperança para aqueles que sofrem com os sintomas do TPB e oferece possibilidade de uma vida mais estável, saudável e significativa.

Publicado

2024-05-05