Técnicas de manejo sanitário no controle e prevenção de doenças no rebanho: situação de produtores rurais do Distrito José de Alencar, Iguatu-Ce

Autores

  • Raissa Gomes de Lima Ramos
  • Francisco Gabriel Paulino Nogueira
  • Izadora Pinheiro Landim
  • Joel de Lima Oliveira
  • Lucas Ravel da Silva Cordeiro
  • Maria Erilúcia Cruz Macêdo

Resumo

Neste estudo foram entrevistados 15 produtores rurais do Distrito José de Alencar, em Iguatu, Ceará, com o objetivo de apresentar técnicas de manejo sanitário no controle e prevenção de doenças no rebanho, em fazendas desprovidas de assistência veterinária, visando a melhoria da saúde animal, o bem-estar e a segurança alimentar da população. O estudo descritivo teve como público alvo, pequenos e médios produtores rurais que praticavam dos seus conhecimentos na lida dos animais. O questionário estruturado continha perguntas relacionadas aos dados sociodemográficos dos participantes, questões gerais que caracterizavam as propriedades e também indagações sobre os tipos de manejos praticados em cada uma delas, em especial, sobre as medidas sanitárias preventivas e de vigilância epidemiológica. Segundo os dados levantados, observa-se que, todas as propriedades visitadas tinham os bovinos como a espécie predominante, sob sistema de produção semi-intensiva com o objetivo de produção mista em 70%. Nenhum deles possuíam assistência médico veterinária. Entre os problemas mais recorrentes das fazendas visitadas foram citadas em primeiro lugar as ectoparasitoses com 100% de prevalência, causadas por carrapatos e moscas e em segundo lugar as verminoses gastrointestinais em 80%, sendo esta mencionada por eles como uma doença de predileção aos neonatos e recém desmamados principalmente. As perdas econômicas causados pelos parasitas ocorrem em razão do baixo crescimento animal, perda de peso, redução do apetite, ainda diminuição na produção leiteira e comprometimento do couro e em casos mais graves podendo ocasionar a morte dos animais. Um dos principais desafios dos produtores e técnicos é o controle das verminoses dos rebanhos, onde a grande maioria dos criadores fazem uso indiscriminado de medicamentos com os mesmos princípios ativos, de modo a facilitar a resistência parasitária. A ocorrência de diarreias em neonatos foi citada em 70% das propriedades. O sistema de cria é uma fase crítica e por se tratar de animais jovens são mais sensíveis as condições adversas do ambiente, pois a imunidade ativa desses animais ao nascimento ainda não é estabelecida, tornando-os mais susceptíveis a doenças neonatais, principalmente diarreias e pneumonias, por isso o manejo alimentar no estágio inicial da vida desses animais é essencial, já que a ingestão de colostro nas primeiras horas após o nascimento fornece anticorpos aos bezerros impedindo o estabelecimento de microrganismos patogênicos. A vacinação foi a prática mais mencionada em 45%, no entanto, mencionaram somente utilizar a imunização obrigatória contra febre aftosa. A vacinação visa a prevenção da ocorrência de doenças e sua disseminação, além de promover o bem-estar animal, minimiza os prejuízos econômicos que afetam a produção e reprodução da espécie. As vacinas contra febre aftosa e brucelose são de caráter obrigatório. Não se deve vacinar animais fracos e doentes, evitar o estresse durante o manejo, evitar vacinar animais em horários mais quentes, prestar atenção ao prazo de validade e em relação à temperatura de armazenamento e transporte. Segundo relato dos produtores, em 100% dos casos informaram reutilizar seringas e agulhas durante esses procedimentos. O reaproveitamento desses materiais são fontes perigosas de transmissão de doenças infecciosas. Citou-se também a inclusão do controle de parasitas em 29% dos participantes, porém este controle era feito somente quando identificava-se os carrapatos nos animais. Mais adiante foi afirmado somente aplicar esses medicamentos quando houvessem necessidade, não seguindo nenhum protocolo preventivo para tal. Para a higiene das instalações, o ideal é ser feito diariamente logo após o térmico de cada dia de trabalho, no entanto somente 16% confirmaram realizar esse manejo corretamente. A limpeza é constituída pela retirada das fezes do curral, devendo esta ser levada para algum lugar onde os animais não tenham contato. Cerca de 95% dos parasitas existentes estão dispostos no ambiente, especialmente nas pastagens e no solo, apenas 5% estão nos hospedeiros. O isolamento de animais doentes do restante do rebanho e a rotação de pastagens foram as duas práticas menos apontadas pelos produtores rurais em 7% e 3% deles respectivamente, afirmando serem estas, de costumes desconhecidos pela região. Os benefícios advindos da prática de rotação de pastagens contribuem de modo significativo na redução do número de larvas de helmintos e de carrapatos nos piquetes, de modo a interromper seu ciclo através da ausência dos animais naquele local por um determinado tempo. Quando um animal morre na propriedade, 53% deles responderam que enterram as carcaças, porém os demais afirmaram deixá-las dispostas no ambiente para a população de carniceiros, esclarecendo que apesar de reconhecerem os perigos da contaminação ambiental, da propagação de agentes infecciosos aos outros animais e os riscos à saúde humana, não possuem pessoas suficientes para realização deste trabalho. Ao serem indagados se eram cientes dos riscos sanitários do manejo e que refletiam na saúde humana, 44% deles responderam que não tinham conhecimento a favor do assunto, demonstrando pouca compreensão das doenças zoonóticas, adquiridas pelo contato direto com o animal, durante o consumo da carne, do leite e derivados contaminados, por procedimentos cirúrgicos ou até mesmo através da aplicação de medicamentos. A brucelose, a tuberculose, a leptospirose e a raiva são consideradas importantes zoonoses ocupacionais, um perigo à saúde de profissionais e de produtores rurais que possuem contato direto com eles. Quando questionados sobre o método de quarentena, todos responderam que não a utilizavam. O animal recém adquirido era prontamente juntado ao restante do rebanho, sem conhecerem seu histórico e nem muito menos exigirem testes laboratoriais que comprovassem a sanidade do animal. Em 93% dos produtores rurais discutiram sentir a necessidade de possuir uma assistência técnica que lhes amparem nas horas de difícil decisão, como também, sentem a carência dos órgãos de vigilância sanitária na comunidade. Nesse contexto, cabe aos serviços de extensão rural, aos profissionais e técnicos da área, fornecerem ao homem do campo um maior amparo e treinamentos regulares que os possibilitem assegurar sua saúde e por conseguinte, sua produção. A falta de assistência profissional resulta em um cenário onde muitas doenças podem passar por despercebidas ou não serem tratadas adequadamente, levando a perdas significativas devido a morte dos animais, queda na produção e qualidade dos produtos, ocasionando riscos a população em geral.

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Publicado

2024-05-05