“Escuto tudo que calo”: o silêncio como expressão emocional e a compreensão da comunicação não verbal no campo hospitalar
Resumo
Introdução: O conceito de silêncio na Psicologia, quando examinado inicialmente, está
ligado à histórica relutância do paciente em relação à mudança e, do ponto de vista técnico, à
relevância das informações não expressas durante a investigação clínica baseada na
comunicação verbal. A comunicação verbal é a ferramenta fundamental do processo, mas, não
a única. O silêncio, portanto, está presente no setting terapêutico e “seus efeitos são tão
decisivos quanto os da palavra efetivamente pronunciada”. Por isso, a importância de
entender as diversas formas de linguagem, como o silêncio, que por diversas vezes, fala
muito. É importante para o terapeuta se atentar as comunicações não verbais em todas as
áreas, mas, aqui, em específico no âmbito hospitalar. No dicionário, tem o silêncio como o
estado de quem se cala ou se abstém de falar. No hospital, pode-se escutar o silêncio que fala,
pelo olhar, por gestos, cabe ao profissional respeitar esse espaço e criar manejos para que o
processo continue sem causar efeito contrário do esperado. A canção “Desaperreio” de
Almério e Martins, elucida esse silêncio de escuta, mas também que fala emocionalmente no
sujeito como produção de insight: “Se for preciso, nem falo / Fico em silêncio, me mudo /
Faço que finjo e que iludo / Escuto tudo que calo / Falo bastante, me engasgo”. O profissional
de Psicologia sabe que é preciso “escutar o que está além da palavra, escutar o silêncio,
promover a fala”. Objetivos: Analisar a função do silêncio como uma expressão emocional e
entender a importância da compreensão da comunicação não verbal no contexto hospitalar,
visando aprimorar a qualidade do atendimento e o suporte emocional oferecido aos pacientes
e suas famílias. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, qualitativa a partir da
análise de artigos e livros relacionados ao silêncio como expressão emocional, comunicação
não verbal e não violenta, utilizando os descritores conexos à interseção entre o silêncio
terapêutico e a psicologia hospitalar. Discussão: O silêncio transcende a mera ausência de palavras; ele representa um momento único durante o tratamento, no qual questões não
articuladas verbalmente se manifestam, e é encargo do terapeuta identificar e empregar essa
ferramenta de trabalho para uma compreensão mais profunda e para prestar um apoio mais
eficaz ao paciente, silêncio este facilmente encontrado nas clínicas hospitalares. A construção
do profissional da Psicologia Hospitalar cresce paralela à necessidade que se faz na prática.
De acordo com a definição do órgão que rege o exercício profissional do Psicólogo no Brasil,
o Psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos
secundário e terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde. Destarte, a junção
da atividade técnica à atenção ao paciente, bem como à sua família, é o que caracteriza o
profissional atuante no ambiente hospitalar. Análogo ao proposto, a comunicação não verbal
do paciente pode ser evidente nesse ambiente, visto o sofrimento ambíguo que o faz estar
presente, da dor física ao sofrimento psíquico. O silêncio, portanto, vai muito além da
inibição. Ao considerar a interpretação da resistência, cria-se um ambiente propício de
mudança psíquica. Nesse contexto, o silêncio não é percebido como uma barreira, mas sim
como um processo de reflexão que pode, à primeira vista, parecer que o tratamento não terá
evolução. No entanto, ele contém em si a capacidade de superar a resistência e de facilitar o
desenvolvimento de uma nova configuração psíquica em progresso. Considerações finais:
Considera-se que o silêncio não representa meramente a ausência de palavras, mas sim um
momento distinto no processo terapêutico em que questões não articuladas verbalmente se
manifestam. Nesse contexto, é responsabilidade do terapeuta reconhecer e empregar esse
elemento como uma ferramenta para aprofundar a compreensão e prestar assistência mais
eficaz ao paciente. É crucial que, quando as palavras falham em comunicar, seja possível
discernir o significado subjacente da relação e o que está implícito. Isso permite que,
posteriormente, as palavras desempenhem um papel, ocupando o vazio e aliviando o
sofrimento ao nomear o que estava implícito, dando lugar a escuta de tudo o que se cala,
como propõe os cantores e compositores Almério e Martins. Agradecimentos: Agradecemos
a nossa supervisora de estágio, orientadora e exemplo de profissional a ser seguido. Maria
Conceição possui técnica e a aplica de maneira humana, ética e afetuosa. Suas contribuições e
dedicação foram fundamentais para o nosso crescimento profissional e pessoal. Muito
obrigado por ser uma mentora excepcional e por nos guiar ao longo deste caminho.
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