Discurso religioso e seu impacto na saúde mental da comunidade LGBTQIAP+

Autores

  • Maria Eduarda Gonçalves de Oliveira Centro Universitário Vale do Salgado (UniVS)
  • Kaelhany Pereira Batista Centro Universitário Vale do Salgado (UniVS)
  • Davi Sampaio Cardoso Centro Universitário Vale do Salgado (UniVS)

Resumo

Introdução: Debater sobre sexualidade é compreender que ela ainda está em um lugar atravessado de estigmas e preconceitos de diversos lados, principalmente, partindo do fundamentalismo cristão, que idealiza um conflito acerca da sexualidade no meio público, onde o círculo do conservadorismo se une na esfera política, visando a heteronormatividade como um lugar absoluto (ARAGUSUKU; LARA, 2020). A resolução do dia 22 de março de 1999, estabelece que a homossexualidade não é patologia e regulamenta a atuação da psicologia nas questões relacionadas à orientação sexual e proíbe qualquer tipo de tratamento que patologize e discrimine a homossexualidade, a fim de construir um ambiente onde o sujeito possa ser livre e compreendido independente de suas particularidades, integrados nos conceitos de saúde e vida estabelecidos pela OMS.  Assim, assegurando que todo atendimento seja digno a todos os usuários dos serviços ofertados pela psicologia, e barrando qualquer tipo de discurso que compactua com o estigma voltado à homossexualidade, como desvio ou patologia, visando reduzir a opressão/preconceito vivenciado pela população LGBTQIAP+ e o adoecimento psíquico que lhe é causado (CFP, 2021). Objetivos: Discutir, a partir de uma perspectiva científica, as problemáticas provocadas pela intersecção entre as comunidades religiosas e a esfera política, bem como o impacto seu discurso a acerca da comunidade LGBTQIAP+. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, na qual foram analisados artigos científicos e livros que adentram a temática do trabalho. A perspectiva metodológica é compreendida como uma prática crítica que promove o desenvolvimento científico através de questionamentos, possibilidades e limites, tratando-se da proposta de discutir sobre técnicas de pesquisas e a construção ciência (DE SOUZA MARTINS, 2004). Foram empregados descritivos "Comunidades religiosas", "Preconceitos contra LGBTs", "Cura gay", “Resolução nº 01/1999”, no site de pesquisas Google acadêmico, que resultou em aproximadamente 17.000 resultados, dos quais foram retirados 5 artigos. Os critérios de inserção para seleção da análise foram:  publicados entre 2004 a 2023, todos traduzidos o Português e com relação à temática. Resultados/Discussão: A homossexualidade foi por muitas décadas patologizada, considerada um distúrbio de origem biológica, genética ou até psíquica, ocasionando em um forte aprisionamento das subjetividades LGBTQIAP+ por se identificarem com uma sexualidade considerada desviante (ROCHA, 2016). Na década de 80 houve diversos movimentos de direitos civis para reivindicar a despatologização da homossexualidade e lutar contra a repressão e violência, principalmente durante a epidemia da AIDS, na qual foram presente uma forte culpabilização da comunidade pela propagação da doença, e discriminação da população homossexual. Esse período também trouxe inúmeros adoecimentos tanto psíquicos como físicos para pessoas LGBTQIAP+ que contraíram o vírus: abandono familiar, repressão da sociedade e recusa dos profissionais de saúde em atender. Nesse mesmo período, voltaram a surgir questionamentos a favor da inclusão de pessoas da comunidade ligadas a figuras sociais de movimento ativistas dentro de locais religiosos (DA TRINDADE, 2019). Mesmo após esses movimentos, o número de fundamentalistas no Brasil vem crescendo ao longo dos anos, objetivando a imposição de suas crenças e ideologias religiosas à sociedade plural, com tentativas claras de combater a diversidade peculiar da coletividade humana (OLIVEIRA, 2021). Atualmente, uma das partes mais afetadas é a comunidade LGBTQIAP+, através de discursos preconceituosos, valores conservadores e moralistas que delimitam os direitos à liberdade das pessoas da comunidade. Em um país como o Brasil, onde uma grande maioria se autodenomina “religiosa” (cristã, evangélicas ou católicas), fica evidente que tais práticas são guiadas por preceitos religiosos que rotulam um padrão de comportamento moralmente aceitável dentro de uma sociedade. É visível que o modelo de relação e orientação dita como cisheteronormatividade é a norma e que outra orientação sexual que contrapõe esse modelo é posta como "pecado", além de pressupor que outras sexualidades como perversas, criminosas e doentias. Desse modo, as instituições e líderes religiosos usam de falas preconceituosas que oprimem a população LGBTQIAP+, criando situações que patologizam novamente a homossexualidade, colocando-a na posição de doença que pode ser "curada" mediante alguma intervenção ou suporta “terapia de conversão”. Atualmente, as tentativas de voltar com a idealização patológica vem sendo discutida no plenário, apresentando um retrocesso para a luta da comunidade, considerando que estâncias como o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), já reconheceram a homossexualidade fora da ordem da patologia (NOVAES, 2021). Considerações finais: Diante do assunto abordado, pode-se perceber que o fundamentalismo religioso ainda afeta a comunidade LGBTQIAP+, com discursos e práticas discriminatórias e violentas, que ameaçam constantemente as subjetividades dessas pessoas, tirando seu espaço de liberdade e direito a uma existência digna. Torna-se necessário um entendimento crítico sobre a orientação sexual e o lugar que ela ocupa, promovendo debates construtivos ao trazer como pauta acadêmica a importância da identificação e pertencimento à comunidade, como sendo um sujeito de direitos. Construindo análises e considerações críticas partindo da perspectiva dos preconceitos advindos de comunidades religiosas, visando um reconhecimento e um olhar mais sensível da sociedade voltada para essa temática. 

Palavras-Chave: LGBTQIAP+, Comunidade religiosa, Sexualidade, Homossexualidade.

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Publicado

2024-06-17