Adolescência e o transtorno de personalidade borderline: uma visão da automutilação
Resumo
INTRODUÇÃO: O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é caracterizado por instabilidade emocional e no humor, problemas relacionados à impulsividade, demonstrando influências nos relacionamentos interpessoais e na própria imagem, podendo ser seguidos de comportamento suicida e de automutilação. Adolescentes portadores desse transtorno podem ser diagnosticados com certeza desde os 11 anos de idade, sendo que os sintomas e o curso têm grande proximidade com o TPB em adultos. Contudo, nos adolescentes existe uma maior chance da manifestação sintomatológica ser através de comportamentos impulsivos e auto-mutilatórios, além da ideação suicida. A adolescência, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é vista como uma etapa entre os 10 aos 19 anos, no entanto, não é apenas a idade que vai definir essa fase. É um período de transformação do ciclo da vida do sujeito entre infância e adultez, apontado por grandes dificuldades, por se tratar de um período relacionado à definição do indivíduo (Amaral et al., 2021). OBJETIVO: O presente trabalho tem como objetivo central compreender e definir o Transtorno de Personalidade Borderline em adolescentes através da ótica da automutilação. METODOLOGIA: Após a escolha do tema, iniciou-se o desenvolvimento do presente estudo através de pesquisas bibliográficas na Scielo, CAPES e Google acadêmico. Realizando, dessa forma, uma busca sistemática que se encaixa na modalidade qualitativa. Tal busca foi realizada em artigos e livros relacionados ao tema, aprofundando o entendimento sobre o Transtorno de Personalidade Borderline e a automutilação em adolescentes e proporcionando embasamento teórico para o trabalho. RESULTADOS E DISCUSSÕES: De acordo com o DSM-5, a característica fundamental do Transtorno de Personalidade Borderline é um padrão de instabilidade tanto nas relações interpessoais, quanto na autoimagem, afetividade e impulsividade. Indivíduos que apresentam o transtorno, fazem o possível para que não sejam abandonados, que podem ser na realidade ou imaginário (critério 1) apresentam extrema insegurança ao abandono e uma raiva desproporcional quando ocorrem alterações nos planos que não podem ser evitadas. Além disso, demonstram um modelo de relacionamentos caracterizados por grande intensidade e instabilidade, sendo que estão sujeitos a mudanças repentinas na sua maneira de ver as outras pessoas (critério 2). O critério 3, ainda segundo o DSM-5, está relacionado a confusão na identidade, que resulta em uma percepção de si mesmo instável e em mudanças dramáticas na imagem própria. Apresentam também impulsividade em no mínimo duas áreas possivelmente autodestrutivas (critério 4). O critério 5 está ligado à presença de comportamentos repetidos de automutilação e ameaças suicidas (American Psychiatric Association, 2014). O critério 6 pode ser descrito como afetividade instável por causa do humor reativo, o 7 como sentimento de vazio que são crônicos, o critério 8 representa uma dificuldade no controle da raiva, e, por fim, o critério 9, que diz respeito a ideação paranóide ligada ao estresse. A sintomatologia do TPB na adolescência é associada a uma alteração psicossocial, diminuição no desempenho acadêmico e menor entrada no mundo do trabalho, acompanhada de uma baixa satisfação pessoal em não mais que 10 a 20 anos depois do começo dos sintomas (Ferreira, 2018). Esse transtorno atravessou por diferentes definições no decorrer dos anos, tendo sido encontradas diversas bibliografias com percepções e termos distintos acerca do transtorno, como por exemplo: patologia limítrofe, esquizofrenia ambulatorial, esquizofrenia pseudoneurótica, organização borderline de personalidade e transtorno de índole psicótica. Desse ponto de vista, escancara-se a divergência de ideias e estudos em torno da condição e como foi difícil encaixar e perceber a mesma como uma psicopatologia única e com um quadro clínico delimitado (Silva DAR, 2018). Assim, apesar de os estudos em torno do TPB serem direcionados ao público adulto, há também diversos estudos da TPB durante a fase da adolescência. Os autores que estudam o transtorno com foco nesse período da vida, afirmam que muitos traços de afeto, de cognição e de comportamento ligados ao borderline são percebidos antes mesmo dos 18 anos. A automutilação é muitas vezes recorrente em adolescentes “é compreendida como ferimentos ou lesões, tais como cortes, arranhões, mordidas e queimaduras auto praticadas no próprio corpo, sem intenção consciente de suicídio.” (Moreira, 2023, p. 2). Essa autolesão geralmente ocorre quando o jovem está com picos de raiva ou angústia e acaba fazendo isso para diminuir o sofrimento emocional que o acomete. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante do material estudado, alguns pontos se destacam. Como o fato de que deve haver uma cautela e um cuidado que se faz necessário ao se considerar tratar-se de uma manifestação de personalidade borderline na adolescência. Pois por essa fase ser marcada por mudanças, frustrações, inseguranças, por um reordenamento e reorganização da própria identidade, entre outras questões, a cautela se faz importante. Todavia, tanto o transtorno quanto a automutilação são questões de difícil discussão e entendimento, principalmente para os familiares e/ou pessoas próximas do adolescente que está nessa situação, implicando negativamente no processo de tratamento do borderline.
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