Percepção dos produtores rurais sobre os riscos sanitários da Brucelose Bovina em propriedades do interior do Ceará

Autores

  • João Vitor Sousa da Silva
  • João Ytallo Pinheiro Fernandes
  • Kaliel Moraes Diniz
  • Lucas Ravel da Silva Cordeiro
  • Raissa Gomes de Lima Ramos
  • João Elias Moreira Filho

Resumo

A Brucelose bovina é uma doença infectocontagiosa e originada da bactéria Brucella abortus, um cocobacilo gram-negativo. No Brasil é a principal doença que impacta a reprodução, causando abortos nas fêmeas no final da gestação e o nascimento de bezerros fracos, sendo responsável por perdas de 25% na produção leiteira. Nos machos ocasiona orquite, epididimite seminal, vesiculite ou abcessos testiculares, levando a subfertilidade ou infertilidade da espécie. Esta pesquisa objetivou identificar os principais fatores de riscos associados à disseminação da Brucelose bovina nas propriedades rurais e com isso, promover medidas preventivas e de vigilância epidemiológica visado sua erradicação. Esta ação foi conduzida em 10 propriedades rurais distribuídas na cidade de Iguatu, Ceará, região Centro sul do estado. Foi aplicado uma entrevista estruturada, com um roteiro de perguntas já definidas, e aplicadas igualmente a todos os candidatos. O questionário avaliativo abrangia perguntas desde os dados sociodemográficos, caracterização geral da propriedade, questões sobre as atividades de rotina da fazenda até interrogativas que facilitassem revelar erros de conduta no manejo que favorecem a incidência de enfermidades. De acordo com os dados coletados a campo, foi possível observar que, 70% das propriedades apresentavam um rebanho efetivo de 50 a 100 bovinos, 100% deles sob sistema semi-intensivo com objetivo de produção mista em 60% e os demais 40% destinados somente a produção leiteira. Nenhuma das propriedades possuíam assistência médico veterinária. Em 80% dos criadores comunicaram destinar a venda do leite para uma indústria de laticínios, no entanto, apenas 10% declaram vacinar seu gado contra a Brucelose, e mais adiante, 70% deles informaram desconhecer a enfermidade, nem muito medir sua gravidade, o seu caráter infeccioso e sua transmissão aos humanos através do contato direto de secreções vaginais, restos placentários, feto e pelo consumo do leite cru não submetido a pasteurização, assim como queijo e derivados. Muitas vezes a realidade desvenda a ausência de medidas de vigilância epidemiológica nas propriedades, poucas ações sociais preventivas sobre a etiopatogenia das doenças, os danos à saúde pública e a importância da sanidade animal, implicando assim, na desinformação da população quanto aos riscos das doenças. A Brucelose não tem cura nos animais e a principal forma de evitá-la é a vacinação, sendo esta, uma medida obrigatória. A vacina permite além da manutenção da saúde animal e humana, a comercialização dos animais e o seu trânsito de um local a outro. É administrada em uma única dose nas fêmeas e não precisa ser ministrada novamente no decorrer da vida do animal. Na legislação devem ser vacinadas, bezerras fêmeas de três a oito meses de idade, por médicos veterinários habilitados e cadastrados para tal. A entrevista trouxe resultados de 100% dos criadores não prestarem nenhum serviço de teste de diagnóstico de doenças no plantel, além de 50% deles, afirmarem continuar utilizando vacas com histórico de abortos na estação de monta natural e somente 10% apontaram fazer a limpeza do curral diariamente, demonstrando pouca atenção aos perigos sanitários. A fêmea portadora de Brucelose, quando aborta ou dá cria, contamina o pasto, a ração, a água e o curral. As bactérias no ambiente, permanecem vivas por longos períodos, dependendo das condições de umidade, temperatura e sombreamento, ampliando significativamente as chances de o agente infectar um novo indivíduo. Dentre as atividades de manejo preventivo, a quarentena de animais recém introduzidos na fazenda é a melhor atitude a ser adotada pelos criadores, haja vista que, é considerada a principal porta de entrada de doenças, no entanto, nenhum entrevistado confirmou seguir esse procedimento, relatando juntar prontamente o animal recém adquirido ao restante do rebanho. Outro fator importante seria o descarte correto de restos placentários e fetos de aborto espontâneo. Manusear seguramente esse tipo de material usando preferencialmente luvas e os enterrando em locais longe da propriedade, de fontes de água e em lugares onde os animais não tenham acesso. Somente 20% confirmaram enterrar essas peças, 50% deixam no ambiente para a população de carniceiros e os demais 30% retiram do curral mais ainda as descartam no ambiente, dizendo ser este, um local longe dos animais. A brucelose humana é também uma doença profissional que acomete agricultores, trabalhadores de matadouros, açougueiros e médicos veterinários, porém é subestimada pela ausência de serviços de diagnósticos confirmatórios. Em 90% dos produtores rurais discutiram sentir a necessidade de possuir uma assistência técnica que lhes amparem nas horas de difícil decisão, como também, sentem a carência do auxílio dos órgãos de vigilância sanitária na comunidade. Todos os participantes apontaram não se habituar em notificar aos setores competentes a suspeita de alguma doença endêmica ou zoonótica no rebanho, sendo esta, uma atitude prejudicial ao controle dos agentes além de dificultar a análise epidemiológica e o seu comportamento. Em síntese, a combinação de educação social e de boas práticas de manejos preventivos nas comunidades, não se limitam apenas à esfera da produção em si, uma vez que, o impacto causado pela doença impõe ameaças aos consumidores de alimentos de origem animal, contribuem a disseminação de agentes infecciosos no rebanho como também, dificultam o acesso de produtos brasileiros ao mercado externo. Medidas como a detecção precoce e a notificação devem ser adotadas mais brevemente possível, assim como o compartilhamento de informações entre países, sendo pontos chaves para uma pronta resposta em âmbito global.

Downloads

Publicado

2024-05-05