“Nem serva, Nem objeto”: um olhar sobre o processo de desconstrução da mulher moderna

Autores

  • Susane Maria da Silva Fernandes Centro Universitário Vale do Salgado
  • Iara Moreira de Oliveira Centro Universitário Vale do Salgado
  • Maria Erilúcia Cruz Macêdo Centro Universitário Vale do Salgado

Resumo

Introdução: Considerando a compreensão da mulher na sociedade, sempre foi assimilado o
papel como dona de casa, cuidadoras dos filhos e do marido. A partir da inserção feminina
nos ambientes de trabalho, as mulheres passaram a ocupar os espaços de trabalho tanto
domésticos, quanto públicos e privados. Silva, Gatto e Costa (2022) pontuam que após a
intensa jornada de trabalho, ainda resta para a mulher o encargo dos afazeres domésticos,
assim são atribuídas ao homem apenas as tarefas da promoção e manutenção financeira do lar.
O fato é que a ocupação dessas tarefas culmina em múltiplas jornadas de trabalho atribuídas
ao gênero feminino, que são somadas aos cuidados domésticos e com os filhos, ocasionando
sobrecarga e falta de espaço para o cuidado físico e psicológico da mulher. Santos Neves
(2022) salienta que a variedade de tarefas exercidas pela mulher, restringe a sua oportunidade
de vivenciar momentos de lazer, onde tais momentos têm função fundamental na vida do
sujeito. Dessa forma, as mulheres estão mais propícias a problemas relacionados à saúde
mental, em decorrência das cobranças diárias vivenciadas pelas mesmas. O autor destaca
ainda a importância da desconstrução dessa romantização da sobrecarga feminina, pois essa
imagem dificulta o reconhecimento da necessidade de cuidados, descanso e atenção
psicológica. Desse modo, a mulher coloca-se como sujeito criador de sua identidade, mesmo
que ainda esteja presa a inúmeras amarras sociais, porém buscando se desprender do conceito
de mulher explicada pelo homem (DA CRUZ; BITENCOURT; CARNEIRO, 2016).
Objetivos: Compreender o processo de desconstrução da mulher na sociedade moderna
diante do acúmulo de cobranças e as múltiplas jornadas somadas ao longo das décadas, a
partir da análise da canção “Desconstruindo Amélia” da Pitty e Martin Mendonça, buscando
uma aproximação da temática com as implicações na saúde mental feminina. Metodologia:
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, a partir da análise de artigos
relacionados a desconstrução da mulher moderna associado a desigualdade de gênero. Para
isso, realizou-se uma busca de material no Google Acadêmico, dando enfoque em artigos publicados entre os anos de 2016 e 2022. Discussão: Historicamente, a imagem da mulher foi
constituída a partir do olhar masculino, tendo sua identidade atrelada as funções de cuidar do
lar, do marido e dos filhos. Por essa via, a mulher é afastada de si mesma para dar conta do
cuidado com o outro, exercendo uma atuação invisível aos olhares alheios, partindo da
submissão do eu feminino e dos seus desejos em relação a sociedade (MARQUES, 2022). Na
canção “Desconstruindo Amélia” composta por Pitty e Martin, encontra-se uma crítica quanto
a representação, a repressão e os valores da mulher na sociedade (DA CRUZ;
BITENCOURT; CARNEIRO, 2016). A cantora destaca a construção da mulher, socialmente,
no cuidado para com o outro a despeito do próprio eu ao dizer que “O ensejo a fez tão
prendada / Ela foi educada pra cuidar e servir / De costume, esquecia-se dela / Sempre a
última a sair”. Segundo Marques (2022), abrir mão de si mesma em detrimento do outro
acarreta prejuízos referente a saúde mental, na qual a psicologia assume um papel importante
ao desmistificar a imagem da mulher como sujeito subestimado historicamente, socialmente e
culturalmente, a qual foi imposta uma posição inferior por ter seu trabalho desvalorizado em
decorrência da desigualdade de gênero. A saúde mental contempla a satisfação em aspectos
pessoais, familiares, de emprego, lazer, social, entre outros, dessa forma, constata-se a
impossibilidade de atingir a qualidade de vida quando se abre mão de si mesma e dos seus
interesses. Isso se dá, principalmente, quando a desigualdade de gênero é um dos fatores para
a desvalorização da mulher no mercado de trabalho, como salientado no trecho “A despeito de
tanto mestrado / Ganha menos que o namorado e não entende o porquê”. Em suma, a mulher
é invisibilizada em todos os espaços, tendo que lutar pelo reconhecimento da sua identidade e
de seus valores, buscando dar conta de suas multifacetas e da sobrecarga advinda com isso,
tais fatores somados com a desvalorização e a falta de reconhecimento por parte da sociedade
em relação as suas múltiplas jornadas, estão entre os aspectos contribuintes para a causa e/ou
aumento do sofrimento psíquico das mulheres (MARQUES, 2022). Considerações finais:
Considera-se importante fomentar a produção de conhecimento e diálogo referente ao
processo de desconstrução da mulher moderna, pois durante anos a identidade feminina foi
definida pelo olhar masculino. Assim como a Pitty dá voz a tantas mulheres ao dizer que:
“Nem serva, nem objeto, já não quer ser o outro, hoje ela é um também”, tirando a mulher da
invisibilidade a qual foi imposta pelos homens, para um espaço de reconhecimento da sua
existência, implicando na diminuição das causas do sofrimento psíquico. Para isso, não é
necessário somente desconstruir, mas poder reconstruir a mulher moderna a partir de sua
própria perspectiva.

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Publicado

2024-04-26